2 de abr. de 2011

Registros irregulares e crise financeira fazem Espanha cortar subsídios a energia solar


A Comissão Nacional de Energia (CNE) da Espanha, entidade reguladora do setor energético do país, suspendeu na última terça-feira (29/3) os subsídios de 350 centrais de energia solar que apresentaram irregularidades nos registros de seus geradores de energia. A Espanha criou um decreto em janeiro de 2009 para prevenir fraudes do setor de energia solar depois que a CNE descobriu, em 2008, que algumas usinas estavam recebendo subsídios sem produzir energia.

Esses novos cortes podem dificultar ainda mais o desenvolvimento da energia solar no país, já que em dezembro do ano passado o governo diminuiu os subsídios que as centrais solares iriam receber. Agora, até mesmo setores que se opõe à geração de energia solar sugerem que o corte nos subsídios pode afetar outras áreas da indústria espanhola.

A redução do final de 2010 colocou o lobby renovável contra três empresas espanholas – Iberdrola, Endesa e Gas Natural – que estimularam o governo a exercer medidas para suspender os subsídios do setor de energia solar. A Associação da Indústria Fotovoltaica (ASIF) acusou políticos de mentirem sobre os custos para gerar eletricidade, aumentando-os para justificar a diminuição nos subsídios.
Carlos Salle, diretor da Iberdrola, afirma que a divisão entre o lobby renovável e o resto da indústria energética é mais profunda no país. “Nós temos muita controvérsia... isso é um aspecto do nosso sistema – e provoca problemas”, afirmou Salle. Outro empresário do setor referiu-se ironicamente a essa relação como uma “guerra”.

No último ano, só a energia solar fotovoltaica recebeu subsídios de €2,6 bilhões, quantidade que agora nem o governo e nem a indústria podem sustentar. Outros setores industriais liberaram cerca de €20 bilhões para auxiliar projetos de energia solar e eólica, e ainda estão esperando que o governo reembolse essas despesas.

Na Espanha, a indústria solar teve um crescimento fenomenal nos últimos anos devido aos subsídios, que até a ASIF admite que eram muito generosos. Com esses auxílios, as empresas do ramo puderam cortar seus custos muito rapidamente. No ano passado, 4% da eletricidade gerada na Espanha provinha de fontes solares.

 Atualmente, a Espanha tem a segunda maior quantidade de painéis solares na Europa, perdendo apenas para a Alemanha. Tudo isso deixou o país com dez vezes a quantia de energia solar planejada para 2010, mas também com uma conta muito maior que a prevista.


 Agências de notação de risco ameaçam desvalorizar as empresas do setor se algo não for feito a respeito deste ‘déficit tarifário’. “A situação estava horrível há um ano – €20 bilhões para três empresas é uma quantia comparável ao orçamento completo de alguns países”, lembrou o diretor da Iberdrola.
Além disso, a indústria energética não-renovável reclama que as usinas de carvão e de gás, que o governo construiu há cerca de dez anos, depois que ocorreram muitos blecautes, estão perdendo dinheiro, já que só são utilizadas parcialmente. Mas a CNE obriga as usinas a ficar a disposição para funcionarem em épocas que o vento para ou à noite, quando as centrais solares não produzem energia.
Diante disso, a ASIF argumenta que a energia solar foi sacrificada para manter o lucro das fontes fósseis mais altos. Javier Anta, presidente da Associação, disse que a indústria solar vai enfrentar o corte de subsídios no tribunal, mas admitiu que isso pode levar anos, e que até lá muitos projetos de energia solar poderão parar.

Anta acrescentou que alguns investidores poderão não apoiar novos projetos, porque terão receio de que os subsídios possam ser cortados novamente. “Há algumas pessoas que dizem que esse corte não é único. Elas não confiam no governo”, afirma o presidente da ASIF.

Neste ponto, tanto o lobby renovável quanto o restante da indústria energética concordam. Ao reduzir os subsídios prometidos a projetos de energia solar já em execução, teme-se que o governo arrisque espantar investidores de outros setores da economia.

Segundo Salle, “mesmo se nós reconhecêssemos que a situação está melhor do que há um mês ou há um ano, o problema é a falta de confiança. A incerteza não se aplica só ao setor solar, mas a toda a indústria e em alguns casos ao resto do país. Todos sabem a importância de haver uma regulação que não tome nenhuma decisão retroativa, porque é necessário atrair novos investidores”.

No entanto, diferentemente da maioria dos investidores, algumas empresas têm promovido o desenvolvimento de projetos solares. A Abengoa, por exemplo, empresa de engenharia há 70 anos no mercado espanhol, emprega 23 mil trabalhadores na sua unidade de energia solar, e movimenta mais de €3 bilhões. A companhia conduz auditorias sustentáveis há anos, e diz que projetos que não atingem critérios sustentáveis são modificados ou abandonados.

Studio Equinócio
Fonte: http://www.tnsustentavel.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário