No Deserto de Arava, no Sul de Israel, os kibutzim iniciam uma verdadeira revolução. Quem passa pelo local pode ver o gado e as plantações dividirem espaço com imensas placas de células fotovoltaicas e equipamentos de alta tecnologia. As comunidades agrícolas começam a se transformar em coletividades energéticas. É o primeiro passo para a realização do sonho do ex-premiê David Ben-Gurion: garantir o desenvolvimento das regiões desérticas, que compreendem 60% do território do país. “Existe espaço para apenas um primeiro-ministro, mas, para aqueles que fazem o deserto florescer, há espaço para centenas, milhares e até milhões”, declarou Ben Gurion. O fenômeno representa ainda a semente da Iniciativa de Energia Renovável Eilat-Eliot, projeto arrojado que, até 2020, pretende tornar 10% do território israelense dependente exclusivamente de fontes de energia renovável.
A 50 quilômetros ao Norte do balneário de Eilat, o kibutz Ketura inaugurou, em 22 de fevereiro, a primeira planta de energia solar de Israel. Com capacidade para produzir 9 milhões de quilowatts-hora por ano, ela será conectada ao sistema elétrico em setembro e abastecerá três kibutzim. “O Ketura Sun é feito de 18,5 mil painéis solares fotovoltaicos. As linhas de força conectarão as regiões Norte e Sul do país”, explica John Cohen, CEO da Arava Power Company (APC), responsável pela obra. De acordo com o executivo, o Ketura Sun Project é um programa “vital, pioneiro e inovador” que pavimenta o caminho para uma linha total de 200 megawatts no entorno de Eilat.
“Ele simboliza a transição da visão para a realidade, estipula normas e tem acelerado o processo de intercâmbio com as autoridades”, observa Cohen. “Criamos o mapa da estrada para o sucesso solar”, comemora. Até o momento, 100 milhões de shekels israelenses (equivalentes a cerca de R$ 43,8 milhões) foram investidos no Ketura Sun. O empresário conta que todos os moradores do kibutz estiveram totalmente envolvidos no planejamento e nos detalhes da interligação com a Companhia Elétrica de Israel. “Alguns levantaram dúvidas sobre as radiações solar e eletromagnética, mas, por meio de pesquisas, provamos que a produção desse tipo de energia é 100% verde e segura”, comenta Cohen.
Espelhos
Também no kibutz Ketura, outra tecnologia desponta como potencial alternativa de energia limpa. O Verilite Verix 800 inclui dois conjuntos com 45 espelhos planos e uma torre com 18 concentradores da luz solar formados por células fotovoltaicas. “A energia é coletada a partir de uma grande área com espelhos normais e direcionada aos concentradores”, afirma Eyal Richter, CEO da Verilite Ltd. O resultado: um ganho 800 vezes maior em absorção energética do que os painéis comuns. O sistema pode obter até 4kW em uma área de cerca de 200cm². “As vantagens são seu baixo custo, obtido pela combinação de coletores baratos (a cama de espelhos planos) com a conversão de alta tecnologia, e uma produção anual de mais eletricidade do que os painéis de silicone normais.” Comparado a um sistema fotovoltaico de silício, o Verix 800 geraria 30% mais eletricidade (em quilowatts-hora) em um ano.
Segundo Richter, esse ganho em energia pode ser explicado por dois fatores. Em primeiro lugar, o sistema “rastreia” o Sol e movimenta os espelhos e os concentradores para conseguir uma melhor captação da luz. Em segundo lugar, ele não corre o risco de perder até 30% de sua eficiência ao superaquecer, como ocorre com as células fotovoltaicas. O custo de instalação do Verilite Verix 800 é de cerca de US$ 3,5 por watt — em quatro anos, a expectativa é que ele caia para US$ 2. “Cerca de 70% da fabricação pode ser feita localmente, próximo ao ponto de instalação do projeto”, observa Richter.
* O repórter viajou a convite da Embaixada de Israel
Studio Equinócio
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