23 de jan. de 2011

Energia solar atrai investidores e começa a sair do papel no País


Apesar do boom de projetos em energia solar, o setor ainda exige o estabelecimento de uma regulamentação específica e espera pela introdução da fonte em larga escala no País. A primeira usina solar brasileira, instalada na cidade de Tauá, no Ceará, iniciará operação comercial em 2011. A planta, somada a outros projetos em andamento mostra que, timidamente, a tecnologia solar vem ganhando força e atraindo olhares estrangeiros.

Uma das aberturas para a geração solar se tornar mais competitiva é a sua conexão com a rede elétrica de distribuição. Tal caminho, na opinião do professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP), Roberto Zilles, vem sendo trilhado pelo governo com algumas ações de incentivo. Durante o ano foi aprovado, no mês de agosto, o relatório do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída com Sistemas Fotovoltaicos (GT-GDSF), e em setembro a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abriu consulta pública sobre o tema, com o objetivo de receber contribuições para diminuir as barreiras referentes à conexão da geração distribuída de pequeno porte, a partir de fontes renováveis, em baixa tensão. O tema, que ficou em consulta pública por 60 dias, ainda será discutido em 2011.
Na visão de Zilles, além dessas conquistas voltadas para comercialização da geração solar fotovoltaica, os projetos que vem sendo anunciados e a Copa do Mundo no Brasil, são indicativos de que haverá um aquecimento do mercado entre 2011 e 2014. “Em reunião com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que criou um grupo setorial fotovoltaico, constatamos que um número representativo de empresas estrangeiras está investindo em escritórios no Brasil. Então, todas as condições de contorno que aparecem no final de 2010 indicam que há possibilidade de um aquecimento mais intensivo do que se viu no passado”, vislumbra o especialista.
Já para o gerente de projetos da MPX, Lúcio Coelho, o crescimento do setor ainda depende de políticas de incentivo. “O desenvolvimento do mercado ainda não caminha a passos largos. É um desafio encontrar condições de comercialização compatíveis com os investimentos necessários à expansão da geração solar”, aponta o executivo.
Em relação aos custos com a geração solar, Zilles, do IEE-USP, sugere a possibilidade de uma nacionalização da produção, já que os preços dos equipamentos comercializados no Brasil têm sofrido leves reduções, assim como se observou no mercado internacional de módulos fotovoltaicos durante este ano. “A estimativa é de que em 2015 a gente tenha uma redução de 30%. Se a gente for lá para 2020, o custo cai para 1,5 mil euros por kWh em potência instalada. Ou seja, em 10 anos teremos uma redução de 50%”.
Entre as ações que poderiam ser tomadas pelo governo em relação ao setor, o professor aponta que os leilões de energia voltados especificamente para a fonte - como foi feito com a energia eólica - seriam a forma mais rápida de incentivo. Ao mesmo tempo, porém, os certames são mais voltados para os grandes empreendimentos. Na visão de Zilles, uma atenção maior deveria ser dada à taxa do kWh produzido por microgeração - como um sistema fotovoltaico instalado em telhados de clientes residenciais ou comerciais. “Para algumas situações esta paridade [tarifária] ocorrerá em menos de oito anos. Portanto, um programa de incentivo, feed-in, adequadamente equacionado poderá oferecer condições para o desenvolvimento da geração distribuída de pequeno porte com sistemas fotovoltaicos”.
Os primeiros passos

Entre os empreendedores que têm se aventurado em território nacional, está o grupo português VIV Energias Renováveis, que confirmou a construção de fábricas de painéis fotovoltaicos em Lauro de Freitas, na Bahia. A ideia é atender à demanda de painéis em prédios comerciais e residenciais, casas populares que fazem parte de programas sociais como o “Minha Casa, Minha Vida”. Com a proximidade da Copa de 2014, que será realizada no Brasil, o grupo também visa fornecer para tetos solares em estádios de futebol.
A Cemig também anunciou a instalação de uma usina solar fotovoltaica experimental no município de Sete Lagoas, próximo à capital mineira, Belo Horizonte. Serão investidos em média R$25 milhões na unidade, que terá 3MW de capacidade instalada e utilizará recursos do projeto Pesquisa & Desenvolvimento, da própria companhia.
Outro projeto no setor está sendo tocado pela Ecosolar do Brasil, que pretende viabilizar uma fábrica de painéis solares em Recife. O empreendimento, orçado em US$350 milhões produzirá placas voltadas para consumidores finais e que utilizariam o equipamento na geração de energia para uso próprio.
Já a Usina de Tauá, que estará concluída em março do próximo ano, ainda está em fase de construção das edificações, como a casa dos inversores, a casa de apoio e a guarita. Nas próximas semanas, serão instaladas as estruturas de suporte dos painéis solares. No final de janeiro a planta passará pela montagem dos painéis. No total, serão investidos cerca de R$10 milhões. Ainda não foram fechados contratos de comercialização da energia e os estudos para a determinação do valor do MWh ainda não foram concluídos.
A MPX, que faz parte do grupo EBX, do empresário Eike Batista, tem panos para expandir a usina em até 50MW por meio do Fundo de Incentivo à Energia Solar do Estado do Ceará (FIES). De acordo com o gerente de projetos da empresa, Júlio Coelho, a MPX espera que o empreendimento seja um exemplo para a geração elétrica renovável e também um impulso para a utilização da fonte. “O objetivo é operar a planta piloto de 1MW para conhecer a tecnologia e expandir a geração a partir do conhecimento adquirido e do aproveitamento de mecanismos de incentivo adequados ao crescimento da energia solar no país”, afirma o executivo.
Por Gabriela Araújo

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